quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dimetrio

Dimetrio só cava. Procura em um buraco, a tal almejada liberdade. Liberdade esta, que para Dimetrio será a mais valiosa e a mais emocionante busca da sua vida.
Condenado a trinta e sete anos de cadeia, o “pobre” homem é responsável pela perda da liberdade de cinco pessoas. Todos aprisionados por Dimetrio, em covas profundas, dentro do maior de todos os buracos.
Cavar tornou-se a única feitura deste homem, um buraco em sua cela transpô-lo-ia para um mundo que acabara de deixar, pelas suas próprias mãos.
Cavar, cavar, cavar, cavar, cavar, um, dois, três anos sem parar.
Cavar agora já não era mais preciso, chegava o momento de atravessar. Então Dimetrio atravessou, mas o seu corpo não mais passou. Ali Demetrio fixou.
Com certeza só haveria uma solução, o guarda passaria, perceberia e Dimetrio morreria.
Seus amigos de cela compadeceram-se. Olhavam aquele homem e sentiam pelo fim daquela história. Resolveram ajudar e um corpo foram comprar, para colocarem no lugar, e fingir Dimetrio matar. Assim poderiam ajudá-lo a escapar, enquanto fingiam seu corpo retirar. Mas danou-se! A tão sonhada liberdade foi alcançada, mas de forma tão intensa, que Dimetrio nunca mais poderá revertê-la. Sua liberdade agora é infinita e aprisionada.
Naquele buraco, Dimetrio realmente ficara.
Toda a história, agora, errada. Aquele corpo comprado era o que mais atrapalhava. Quem acreditaria na história contada?
Os guardas não acreditaram, e aquele outro corpo levaria a um acréscimo de mais de vinte anos para um daqueles caras.
Como ninguém o assassinara, mas a policia desconfiava pelo menos um deles a culpa levara.
Demetrio afinal destruiu sete vidas, sete famílias, a cela e deu muitos gastos ao governo.
Camila Queiroz

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Noslen

A hora de morrer realmente é muito dramática.
Nelson não sabia disso, até que a morte o convidara.
Nelson malandro, golpista, um verdadeiro artista.
Um dia percebeu que a morte viera te buscar.
Malandro que é malandro até a morte sabe enganar.
Convidou a morte para passear, umas garotas namorar.
A morte querendo aproveitar foi com algumas meninas se deitar.
Tão feliz ficou com o camarada, que a vontade de matar passara.
Resolveu deixar para outro dia.
Não queria acabar com a sua alegria.
Nelson percebeu que de qualquer forma morreria.
Pensou em acabar com aquela agonia.
Embebedou a morte.
E em um despenhadeiro foram comemorar.
Em um abraço de alegria, Nelson se pôs a morte empurrar.
Matou a morte com a arma que iria lhe matar.
Com o passar dos anos
A sua velhice não mais acabará.
E a vontade de morrer, logo aumentará.
A vida sofrida do pobre malandro
Tinha que acabar.
E um trato com o diabo
Nelson se prontificou a assinar
A morte era muito útil no inferno
O diabo não queria tirá-la de lá
Nelson aceitou o cargo
Era o novo dono do pedaço
Começou a trabalhar
E só os ricos queria matar
Podre tem é que se ferrar
Nem direito a morte terá
E o sofrimento perdurará.
(Camila Queiroz)

“O pior não é nada”

A conversa fluía muito bem. Meu amigo me contava sobre a faculdade, mais especificamente sobre uma prova que iria fazer. Desesperado, falava sobre outra prova que também estava próxima. Conversa vai, conversa vem e ele “largou”:

— O pior não é nada, é que…

Desse é que “pra” lá, não mais conseguir prestar atenção, fiquei só naquela frase. Pensei , analisei, tentei entender aquela construção.

O pior não é nada e é alguma coisa.

E o pior não é nem nada, porque se fosse nada, estava tudo beleza.

E o pior nem é nada, mas não é nada mesmo. Agora compliquei toda a minha cabeça.

Sabe qual é o pior?

Sempre que simplificamos a realidade, instintivamente tendemos a complicá-la.

Sempre encontramos algo pior que o nada para piorar. Tem que ter não é?

Senão não tem graça.

Camila Queiroz

O menino do pastel preto.

Arma a tenda, abre a mesa, carrega os materiais, esquenta o óleo, prepara o banquete de muitas pessoas que passarão até o final da noite, por sua barraca.

— Já está tudo pronto aí?

Olhei procurando por aquela voz, uma voz grossa, ríspida, até que encontrei um senhor, forte e alto, com longos bigodes.

— Está. (Respondeu o menino)

Olhei para o menino procurei traços que parecessem com aquele homem e encontrei vários, com certeza eram parentes. O homem se aproximou e sentou ao lado da mesa, se apoiou com um braço em cima dela, e se insentou de estar naquele lugar.

Pedi um pastel e o garoto se pós à fritar. O menino virava o pastel, jogava o óleo por cima, tudo em um ritmo que parecia programado. Até que quando virou o pastel, todo o seu lado estava completamente carbonizado. Sentir o coração do menino como estivesse batendo dentro de mim. Ele olhou para aquele homem ali sentado e o medo penetrou por suas veias. Nossa! O menino mudou de cor, olhe lá se não ficou da cor do pastel. O menino olhou para mim, e agora o que fazer? Acho que esse pensamento foi em conjunto.

O homem levantou.

—Esse pastel está perfeito, bem do jeito que eu gosto.(Falei)

Retrucou o menino:

—Fiz como a senhora pediu, olha pai como essa senhora gosta do pastel.

—Cada cliente tem seu gosto, não fique falando, apenas atenda o cliente como ele deseja e procure gravar, para a próxima vez que ele vier você nem precisar perguntar.

Pegou o pastel e sorrindo entregou-me.

—Dessa cliente você não esquece mais.

Fui embora e levei o pastel.

Muitas vezes é melhor você comer o pastel queimado.

Camila Queiroz

O olhar na Passarela.

Passarela, local que desperta arrepios.

Local que muitas vezes nos deixa sem um fio.

Local que nos transporta, mesmo que sem segurança.

Mas, um local também de olhares.

Olhares de carinho;

olhares de reconhecimento;

olhares de conhecimento (da vida dos outros);

olhares de desprezo;

olhares de “avistei a próxima vítima”;

olhares de nudez;

olhares de inveja (daquele corpinho, daquela blusa);

olhares de Um olhar que vi;

Um olhar que nos milésimos de segundos que durou;

começou.

Começou a estremecer a passarela;

Um olhar de uma mulher;

Um olhar seguidor;

Um olhar desumano;

Um olhar tão rápido e tão intenso;

Um olhar que destruiu dois seios;

Um olhar que descreveu quem era aquela pessoa

que olhava,

sem ninguém precisar me contar.

Uma senhora que olha para outra daquele jeito,

me fez voltar à realidade,

realidade de pessoas, não-pessoas;

nossa realidade de pessoas, não-pessoas;

Como será que olhei?

Por que será que vi aquele olhar?

Será que construí aquele olhar?

Ou será que olhei com o mesmo olhar?

Camila Queiroz

A descrença

Nunca imaginei que diria isso.

Mas,

Não acredito mais na humanidade,

Não acredito mais nas relações humanas,

Não acredito mais nos sentimentos,

Não acredito mais nas sensações,

Não acredito mais no apego emocional,

Não acredito mais nas ideologias,

Só enxergo a concupiscência,

a volúpia do homem,

Só enxergo a virtude momentânea,

Só enxergo as atitudes desumanas,

Olho-me e o que vejo: Um ser, ou melhor, uma coisa

Outrem, desmoralizante, infame, com reflexos de “moralidade”,

Com atitudes abomináveis,

Eu, o homem,

Que mato, que roubo, que estupro, que destruo,

Mas quem destruímos? Quem matamos?

Quem estupramos? Quem roubamos?

A nós!

e ainda, não sei porquê.

Camila Queiroz

Minha sogra e seu Vivaldo

Ah! Minha sogra, nunca vi pessoa igual, mais arteira, mais tratante, ôh mulher esperta.

Mas vamos à esta história e o que ela desperta.

A princípio parece caso de amor, não deixa de ser, mas vamos ao que interessa.

Conheceram-se em um hospital, e ficaram amigos logo depressa.

Pensei! Com certeza minha sogra queria tirar algum proveito.

Seu irmão estava internado no hospital e só podia ficar um acompanhante por leito.

Seu Vivaldo estava enfermo,

Sozinho,

“ que desespero”

Minha sogra compadeceu-se

E quis lhe dá a sua companhia.

Fingia estar com seu Vivaldo para que outras pessoas vissem seu irmão e

não fossem expulsos pelo guardinha.

O pior é que seu Vivaldo gostou, queria a todo o momento estar com minha sogrinha.

Ligava-se quando os guardas “caçavam” e fazia a guarda.

Ficava tão atento e assim que percebia algo errado despistava.

Depois disso foi só prejuízo para o meu namorado,

Seu Vivaldo ganhou roupa nova, perfume, lençol e sapato.

Depois daí só piorou,

Até o irmão doente de minha sogra se zangou.

A relação de interesse passou,

Uma amizade despertou,

Seu Vivaldo se emocionou,

Ninguém nunca o cuidou,

Queria levar minha sogra para seu interior,

Meu namorado não deixou.

Até que um dia seu Vivaldo partiu.

Recebeu alta e sumiu.

Mas muita coisa ficou na minha cabeça,

Uma delas é que fazer o “bem”,

Independente de quem,

Muitas vezes dá muito prejuízo,

Mas depois se torna muito divertido.

E com certeza Seu Vivaldo nunca esquecerá,

Que em um momento difícil da sua vida,

Ele viveu uma amizade,

Que lhe mostrou como pode ser a vida.

* Camila Queiroz